Nelly Carvalho
Nellycar@terra.com.br
Uma dúvida paira no ar no momento atual brasileiro. O JC do dia 3, cujas reportagens-denúncia vêm recebendo os mais importantes prêmios de jornalismo, publicou a manchete: Pesquisa mostra deficiência no ensino. A matéria revela que 50% dos brasileiros que cursaram até a quarta série são analfabetos ou, no mínimo, analfabetos funcionais. Entre as prioridades nos vários níveis de governo, a educação parece ser prioridade zero. O que nos leva a indagar: educação é sem vez ou tem vez?
Por esse motivo, todo encontro que visa debater a educação é bem-vindo. Um dos últimos realizou-se no auditório da Fiepe, promovido pela Academia Pernambucana de Ciências, tendo à frente o arquiteto e amigo Waldecy Pinto. Do programa constaram duas mesas-redondas. Da primeira, participaram os reitores das quatro universidades de Pernambuco, sobre o Papel das universidades na educação sustentável, tema que despertou muitos debates. A segunda versou obre o Ensino profissional, tema que vem crescendo como rumo inovador e necessário para o Brasil, e que teve entre seus participantes Antonio Carlos Aguiar, superintendente do Senai, educador competente, idealista e dedicado, que conhecemos desde a UFPE e o CEE. Como conferencista, tivemos o educador e engenheiro, além do articulista desta página, senador Cristovam Buarque, com Uma visão da Educação no Brasil. Na sua fala, muito aplaudida, começando por uma visão histórica da construção do País, analisou os vários aspectos do processo educativo, hoje.
Estabelecendo um paralelo com países pequenos cujo crescimento vem se dando por conta de investir no ensino, demonstrou que no Brasil, a educação não é prioridade. Convocou todos para uma cruzada em favor da educação nos moldes da campanha abolicionista: seriam os educacionistas. Além disso, mostrou o peso do papel do professor como elemento determinante na formação e socialização das crianças e jovens.
O que foi dito com consciência e firmeza pelo senador, fez-nos estabelecer uma ligação com o que ouvimos, há algum tempo, entre perplexos e consternados, sobre o que é ser professor, dito ironicamente por alguém que fez sua carreira política com base na cátedra universitária. O professor seria aquele que não sabe renovar e fica repetindo as mesmas coisas para as turmas que ensina, pois não sabe criar, sendo apenas um pesquisador frustrado.
A definição do termo, de acordo com o dicionário não confere com o dito. No Houaiss, a acepção é aquele que professa uma crença, ou ainda, aquele que dá aulas em escolas ou universidades, tendo como sinônimos, docente, lente, mestre. Tem origem nobre: do latim, professor, professoris: o que se dedica a alguma causa, o que dá a conhecer uma verdade.
A origem do termo está ligada à fé nos homens e na vida, à dedicação e à realização de um ideal ético. Aristóteles e Sócrates foram ótimos mestres porque transmitiram seu conhecimento aos alunos, formando discípulos que, em alguns aspectos, os superaram.
Os dicionários (estanque como a água no poço, segundo João Cabral) confirmam que são os professores que ajudam o jovem a crescer, sendo a pedra basilar na construção das demais. Médicos, jornalistas, engenheiros ou atores dependeram do professor ao longo do aprendizado, como facilitador na socialização e na construção do aprendizado profissional.
Mas é uma profissão pouco valorizada e desestimulada pelo poder público, como vimos na definição transcrita acima, e pela sociedade. Seus serviços são usados com maior frequência do que os de qualquer outra profissão, porque são cotidianos e ininterruptos para a formação e informação das novas gerações. Uma das causas por que a educação não tem vez é a desmotivação do professor causada pela desvalorização profissional. Junto com o descaso com o processo educativo, é esta a razão de vir o Brasil se classificando nas pesquisas nos últimos lugares, no item Educação.
» Nelly Carvalho é professora da PG de Letras / UFPE e membro do CEE/PE
Fonte: http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/12/18/not_359324.php
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